CAPITULO XXIII
Diana se aproximava daquela casa, não era
primeira vez que sentia receio de ir até lá, e mais do que receio, era como se
algo a puxasse para lá, uma espécie de imã, não estava só no querer dela,
embora sentisse sim sempre vontade de estar ali.
Pouco tempo após a saída da fazenda, já
estava na porta daquela casa, ou melhor, no portão que dava acesso ao quintal,
Diana percebeu então, estava novamente na casa de mãe de Joana.
Antes que pensasse em chamar, mãe Joana já
estava na porta, com aquele olhar de baixo para cima, e um sorriso meio torto, convidou a moça para
entrar, pelo olhar de mãe Joana, parecia que a mesma já sabia que seria
visitada aquela tarde por Diana. E era este olhar que instigava cada vez mais
uma ressabiamento de Diana.
-
Venha, entre minha filha, pensei que não vinha mais, oh, que coisa, é claro que
viria.
Diana
permanecia calada, e agora olhava Joana de um modo que demonstrava medo, mas entrou,
a atração era cada vez maior.
-
Pode entrar menina, não tenha medo, venha, chegue até a minha cozinha. Minha
cozinha é meu lugar preferido desta casa.
-
Está bem, mas não devo demorar.
-
Você nunca demora...
-
Sempre tenho muita coisa para fazer, muito trabalho.
-
Besteira, pra que trabalhar tanto, venha conversar comigo, venha perguntar o
que você veio perguntar.
-
Como assim? Perguntar? Eu não tenho perguntas.
-
Deixa de se fazer de boba, eu sei bem que precisa falar comigo, senão não
estaria aqui.
-
Já disse que não tenho perguntas mas se a senhora insiste.
-
Sente-se então.
Diana sentou, e avistou ainda os estilhaços
de algumas pétalas da rosa ao chão.
-
Bonitas, flores, mas despedaçadas. O que ocorreu com elas?
-
As minhas rosas? Ah as minhas rosas, minhas companheiras. Normal, vivem
brincando, caem pelo chão, eu as apanho. Mas não adianta.
-
Não entendo.
-
O que você não entende?
-
Rosas, brincando, companhia?
-
Ah minha filha, você ainda tem muito que aprender, mas está certa, minhas rosas
não brincam, elas são bem sérias.
-
A senhora deve realmente gostar muito de flores, e deve se sentir bem sozinha
também.
-
Eu sozinha? Eu não recebo muitas visitas, e gosto muito das visitas, e gosto
muito das flores, e principalmente das rosas. E principalmente da rosa.
- Mãe Joana, posso perguntar-lhe uma coisa?
-
Claro, enfim fará a pergunta...
-
As vezes a senhora fala umas coisas tão esquisitas, que eu não entendo, tem
horas que parece saber o que acontece, mas mistura com um mundo surreal. Não
acredito muito nestas coisas, mas a senhora é envolvida por um tipo de magia?
-
Direta menina, muito direta, não é a primeira pessoa que me pergunta isto.
-
Mas é? Ou pelo menos se considera?
-
Digamos que sou uma pessoa bem vivida, com idade bastante para ter um
pensamento que vai além da realidade. Sou uma senhora que vive só, mentira, que
vive muito bem acompanhada da solidão, e do meu roseiral.
-
Está bem, não entendi muito, mas tudo bem...
-
Talvez um dia você entenda. Está vendo aquele roseiral?
-
Claro, tens belas flores.
-
Pois é, está sempre florido. Sempre florido. Mas um dia ele vai parar de
florir.
-
Não, mas isso vai demorar muito, ela ainda vai te fazer muita companhia.
-
Não, não quero que demore muito, já estou ansiosa para que ela pare de florir.
-
Mas porque?
- Faz séculos que aguardo este dia.
-
Séculos, como assim séculos?
-
Eu disse séculos? Não quis dizer anos. Mas vamos parar de falar nisso, já estou
com a cabeça começando a doer.
-
A senhora sempre reclama de dores na cabeça. Quer que eu a leve em um médico?
-
Não. Não precisa.
-
Claro que não, mas talvez se trouxesse meu noivo aqui, ele pode te ajudar.
-
Seu amor? A não, ele está muito longe.
-
Não, não está, esta a poucos quilômetros daqui...
-
Não , está longe.
Depois disso Mãe Joana saiu e deixou Diana
ali sozinha, que acabou deixando aquela casa. Agora já não estava com tanta
agonia, se sentia leve, tranquila, mas uma última coisa a instigou, ao sair da
casa, ao passar pela roseira, está apresentava-se com as folhagens molhadas, e
brilhavam muito. Poderia ser que Mãe Joana tivesse a aguado, mas aquele brilho
chamou muita atenção, tanta que ela foi até a roseira e passou a mão em algumas
das folhas “molhadas”, mas elas estavam perfeitamente enxutas. E ao se afastar
delas, percebia agora em vez de brilho, o ofuscar da poeira sobre as folhas.
Agora teve pressa de sair dali, sentiu um
arrepio, pegou seu cavalo, e cavalgou, não com a vagareza que estava
acostumada, mas num galope fora do comum. Pouco tempo depois já estava longe o
bastante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário