domingo, 29 de dezembro de 2013

CAPITULO XXI

CAPITULO XXI
  Dona Margarida levantou-se bem cedo, tinha que saber a versão de Johan, saber  por que dele ter agredido sua filha, sendo que o mesmo parecia a amar tanto. Antes que Dalila levantasse, ela chamou Jorge, que como sempre se dispôs a fazer a vontade da mãe.
  Foram eles, e não depois de muito tempo se encontravam nas redondezas da casa de Johan, sendo que tal casa não era tão distante do sítio de Dona Margarida, a casa estava localizada no centro da pequena cidade, e Johan por sorte ainda estava em casa.
  Ao bater na porta da casa, quem a atendeu foi uma mulher, que de primeira vista, Dona Margarida não reconhecera, e até pensara que pudera ser o pivô da separação.
  Foi recebida com muita educação, e não precisou nem perguntar para a mulher se apresentar, ela era irmã de Johan, e estava ali justamente para ajuda-lo nos afazeres domésticos. Ao recordar-se de Lúcia, que da última vez que vira ainda era uma menina, Dona Margarida tratou logo de pedir desculpas explicando a confusão que tinha feito.
- Sentem-se, gostaria de falar com o Johan?
- Sim, ele está?
- Está sim, anda meio adoentado, mas está sim. Vou chama-lo.
 A mulher saiu, e pouco tempo depois voltou acompanhada do irmão.
- Dona Margarida, como vai a senhora?
- Estou um pouco preocupada, e você meu filho?
- Um pouco gripado, mas nada demais. A que devo a honra de sua visita?
- Você bem deve imaginar, é Dalila.
- O que tem Dalila, aconteceu alguma coisa com ela? Estás doente?
- Não, não, é que recentemente ela me contou que vocês estão brigados, gostaria de saber o que aconteceu...
- Ela certamente devera ter te contado algo, não?
- Contou, mas conhecendo-a como a conheço, bem posso saber que ela fantasiou um pouco.
- Mas o que ela disse?
- Bem, é difícil para mim, mas só pela sua preocupação com a saúde dela, vejo que ela no mínimo faltou com a verdade.
- Ora, Dona Margarida já estou ancioso.
- Bem, segundo ela, seu ciúme doentio fez com que você fosse agressivo com ela, diz que você chegou a bater nela.
- Não nego.
- Como assim? Como podes?
- Mas ela decerto não lhe contou toda a história?
- Disse que você estava com ciúmes dela.
- Decerto, não era para estar? Sua filha é linda, e eu confesso que ainda a amo.
- Mas isto não é motivo para bater nela.
- Pois então, com o perdão da palavra, permito-me contar-lhe o que aconteceu:
  “Já fazia algum tempo, que andava desconfiado, e muito na cidade me alertaram, que minha esposa, mulher que tanto amei, me traia, eu não acreditava, achava que era invenção dos que não queria minha felicidade. Lúcia mesmo, minha irmã, chegou a me alertar do que era o nome de Dalila, na boca dos outros, chegou a falar com a própria Dalila, inocente, tentando ajuda-la a se livrar dos comentários. Arrumei muita briga minha senhora, por conta disto, tentava deixar para lá, esquecer, mas eram frequentes a denúncias. Fazia questão de acreditar em minha mulher. Para mim ela não mentira nunca, triste ilusão. Um dia, Lúcia discutiu com ela, pois sabia de algo, que eu me recusava a aceitar. Peguei minha irmã, e fui para casa de mamãe, para entrega-la para que parassem as brigas, Dalila não quis vir com a gente, ficou em casa sozinha, pelo menos é o que eu pensava. Durante a estadia na casa de mamãe, pelo clima chato que ficara, adiantei minha volta, e ao chegar, triste decepção, encontrei minha Dalila aos beijos com um homem daqui da cidade. Não consegui me conter, parti pra cima dos dois, o homem, fugiu pela janela, e Dalila ficou ali, olhando para mim, que depois de lhe dar uma bofetada, chorava, me senti o pior dos homens.” - Confesso Dona Margarida, não só levantei a mão para sua filha, como lhe dei uma bofetada.
  Ao terminar o caso, Dona Margarida, não sabia mais onde enfiar a cara, sentia vergonha da filha, sabia que ela não era fácil, mas não podia imaginar que ela era tão sem escrúpulos, trair aquele homem, daquele jeito, e ainda lançar boatos, colocando-o como culpado? Não era triste, era vergonhoso. Não conseguia sequer olhar nos olhos de Johan, que agora chorava discretamente. Ele ainda levantou-se e deu um abraço em Margarida, os dois choraram juntos.
  Enquanto isto no sítio, não era de se estranhar que Dalila e Hanz tivessem aproveitado a saída de Margarida e Jorge. Aquela mulher, agora provocava mais do que desejo em Hanz, ele agora sentia que a amava, e não era fácil, se apegou tão rápido a ela, que não entendia, talvez por que quase nunca tinha a atenção de alguém. E saber que logo, logo teria que ir embora dali, e deixar para trás este amor, isso se não fosse antes deixado por ela.

CAPITULO XX

CAPITULO XX
  Naquele dia Diana, que ainda não havia falado muito sobre Iracema para Julio, resolveu mostra-la a ele, Dona Nanci não gostava muito que a filha recebesse visitas, mas para Julio abriu uma excessão.
 - Há muito tempo ela se encontra em sono profundo Julio, minha mãe ainda tem esperanças que ela acorde.
- Mas não dá sinais de uma possível volta?
- Há pouco tempo ela mexeu o dedo, e depois a mão, o médico que a visita disse que poderia sim ser um sinal de regresso.
- Será que eu posso vê-la?
- Claro, vamos até o quarto, minha mãe não gosta muito que ela receba visitas, mas no seu caso ela entenderá.
  Encaminharam-se rumo a última porta daquele imenso corredor, bateu na porta, e logo Dona Nanci veio a encontro deles.
- Com licença mamãe, Julio gostaria de conhecer nossa princesa.
- Oh sim, queira entrar, estava rezando um pouco. (Dona Nanci passava o dia rezando).
- Venha Julio pode entrar, disse Dona Nanci.
  Entrou ressabiado, mas entrou.
  Ao ver aquele rosto pálido sobre a cama, rosto desfalecido, sem cor, era quase inacreditável que se tratava de uma pessoa em coma, começara a imaginar como seria aquela mulher em sua vida normal. Mas Julio não pode conter-se e uma emoção exorbitaria tomou conta dele, algumas lágrimas caiu ao chão. Nanci e Diana ficaram sem entender, embora muitos que viam Iracema tinham esta mesma reação, D. Nanci mesmo, vez ou outra era pega chorando no quarto.
  Julio sentia um abafamento no peito, algo inexplicável, era como se conhecesse aquela mulher que ali estava, era como se tivesse estado com ela, mas não conseguia reconhecer aquele rosto pálido, se ao menos pudesse ver seu olhar, mas não os olhos, claro, fechados não deixavam que ninguém sentisse sua presença.
  - Faz muito tempo que ela se encontra neste estado?
- Uns sete anos talvez.
- Sete anos? Mas por que aconteceu com ela?
- Ninguém sabe ao certo. Ela andava meio doente, estava fraca, e quando foi um dia encontramos ao chão, caída, levamos ao hospital, foram meses de tratamento, mas todos os médicos diziam que ela estava em coma, e que não tinha o que fazer, que só com o tempo ela poderia se recuperar.
- A senhora precisou ser muito forte.
- Precisei? Se precisei, mas não fui, não me conformo.
- Deus queira que um dia ela se cure.
- Ele quer, eu tenho fé que um dia minha filha, minha tão querida filha estará entre nós.
- E o Sr. Marajó, ele o que pensa?
- Sobre?
- Sobre o caso, não poderia ter sido algum acidente?
- Meu marido fala que ela estava desmiolada, não falava coisa com coisa, ele que a encontrou caída ao chão.
- A polícia não foi acionada?
- Polícia? Chegou a vir aqui, mas não deu em nada, o próprio pai disse que se tratava de “desmiolamento” da filha, eles desconsideraram qualquer hipótese criminalista.
- Se o pai disse, ele deve saber o que estava fazendo.
- Claro. Marajó sempre foi muito rígido com os filhos, mas também muito preocupado, não demonstra mas sempre foi muito preocupado.
  Julio ficou muito intrigado com tudo aquilo, era um caso muito estranho. Logo mais, Diana acabou contando à ele, que na época, pouco antes do ocorrido, Iracema tinha realmente tido uns surtos, e que isso a desestruturava bastante, a irmã começava a dizer algumas coisas sem sentido, chorava muito, dizia sentir falta de alguém que ela nunca dizia quem era, no final isto causava muita dor a toda a família, o pai as vezes perdia a paciência, e saía de casa no meio da noite para se acalmar. Dona Nanci tentava acalmar a filha, mas não adiantava muito.

  Contou ainda que tudo que acontecera com Iracema só acontecera depois dela, Iracema,  voltar de uma viagem.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CAPITULO XIX

CAPITULO XIX
  Hanz não conseguira esquecer daquele beijo, também nem queria, mas se sentia mal por não ter feito nada, poderia ter não correspondido ao beijo, ou melhor, poderia ter aproveitado a situação e não ter deixado Dalila ir para o quarto, ou ainda poderia ter ido com ela, não, mas era melhor parar de ficar pensando em besteiras, aquilo era uma casa de respeito, Dona Margarida era uma mulher de respeito, Dalila era uma mulher de respeito (embora não demonstrasse isso com as vestimentas que usava) sempre tão provocante, com decotes tão acentuados em vestidos de cor tão viva, aguçara não mais, ou até mais que o desejo.
  Mas com os dias que passaram aquele sentimento de atração que se transformara em desejo fora ficando cada vez mais intenso, e era recíproco pelo menos pelo que parecia.
  Naquela manhã Dalila resolveu conversar com a mãe, que a esta altura do campeonato com certeza já desconfiara que Dalila não estivesse nada bem com o Johan, seu genro.
  Claro que Dona Margarida de início resistira firmemente a ideia, demonstrava um olhar não mais que de decepção, nunca desejara ver sua filha separada, tampouco seu genro, ela aprendera a gostar daquele homem como filho, ainda que como já mencionei, Johan nunca tivesse dado muito certo com o pai de sua esposa.
  Não fora um episódio nada emocionante, Dalila contou que estava sendo agredida, que o marido era muito ciumento, a mãe não discutiu, conhecia bem a filha que tinha, preferia nem discutir, saiu da cozinha, deixou a filha lá sozinha.
  Dalila sentira que tirara um fardo das costas, era uma sensação maravilhosa, antes se sentia como uma mentirosa, já fazia quase dois meses que estava na casa da mãe sem coragem para contar da separação, mas enfim, agora não precisava se sentir culpada. Embora ela não tivesse este hábito.
  Mas em seu canto Margarida refletia, era muito estranho, conhecendo Johan como conhecia acreditar que aquele homem loucamente apaixonado por Dalila, agredia uma mulher? Era no mínimo duvidoso. E ainda mais instigante, se ele era tão errado, não seria viável que ele fosse atrás de Dalila para pedir desculpas? Era muita coisa passando na cabeça de Dona Margarida, ela não conseguia compreender, teve medo de iniciar uma discussão com a filha, teve vontade de rever o genro, e decerto reveria assim que fosse possível.
  Hanz finalmente ouvira de Dalila que havia contado a mãe que estava separada, ele esperava ansioso por este dia, ele temia que a mãe dela descobrisse que eles estavam, tendo um enlace romântico antes de saber que a filha estava separada. Pobre Hanz, não sabia quem era Dalila.
   Mas aquele sorriso de Dalila o encantava como o encantava, um homem antes tão frio, tão distante, que vivia perambulando, homem que mata para não morrer, que vivia em confusão, via-se agora apaixonado, aquela mulher inescrupulosa tomara parte de seu coração, queira ele que não seja apenas mais um queira ele.

  Mas também não era perfeito, nunca fora, não poderia exigir a perfeição. Seria injusto. Acreditava veemente naquela mulher, suas palavras eram doces, e seu olhar provocante, quantos homens não caíram em tentação ao avistar aquele belo par de olhos? Aquele cabelo, negro ondulado longo chegando quase que a cintura, um corpo escultural, boca carnuda e olhos, voltam a falar deles, era de um negror sem igual, Dalila era tão linda quanto misteriosa para Hanz.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CAPITULO XVIII

CAPITULO XVIII
  Diana e Perola passaram juntas aquele dia praticamente inteiro, a pequena ainda apresentava certa resistência perante a namorada do pai, no fundo, lá no fundo a pequena Pérola acreditava que seu pai ainda poderia ter algo com sua mãe. 
  Estavam agora debaixo daquela árvore, árvore a qual Diana sempre gostava de ficar ali sossegada para meditar. Pérola brincava com umas pedrinhas, pedrinhas redondas que muitas haviam naquela região.
  Diana a observava, e sentia uma apatia pela aquela criança que era fora do normal, era algo que não era possível de explicar, era como se a conhecesse à muito tempo, aquele jeitinho meigo, ressabiado, um pouco fresquinha confesso, mas muito dócil. Tinha algo que sem dúvidas chamava a atenção, talvez lembrasse o pai, mas Pérola não era muito parecida com Julio, a não ser que Diana não tivesse ainda percebido onde estaria esta semelhança.
  - O que você gosta de fazer menina?
- Não gosto de fazer muita coisa, gosto de ficar quietinha, de ficar com a mamãe enquanto ela acaricia meus cabelos.
-Então você é bastante carinhosa. Sabe que eu sempre fui bem diferente de você?
- Diferente? Realmente, você é muito diferente de mim mesmo. Você fala, fala mais do que eu, eu gosto de ficar calada.
(Diana deu um sorriso breve) – Você gosta de ficar calada e eu aqui tentando fazer você falar.
- É, mais nõ tem problema, meu pai disse que eu devo conversar com você.
- Ah seu pai! Você não precisava conversar comigo se não quiser...
- Ah, então tá bom.
- Mas você quer conversar comigo?
- Quero a minha mãe, eu amo a minha mãe...
- Sim, você ama, e deve amar mesmo, ela deve ser muito boa.
- É ela é a melhor mãe do mundo.
- E ela é bonita?
- Ela é linda. Mas não está muito bem.
- Não? Por quê? O que está acontecendo com ela?
- Ela disse que eu não posso falar que o papai não precisa ficar sabendo disso.
- Disso o que?
- Que ela está doente...
- E o que ela tem?
- Não sei, eu não entendo destas coisas, é coisa de adulto. Eu não insisto, mas eu quero ficar pertinho da minha mãe. Eu tenho medo, medo dela morrer, tenho medo de ficar sem minha mamãe.
- Não precisa ficar assim, ela vai ficar bem, e vocês ainda vão dar muita risada juntas.
- Vamos sim, mas eu ainda tenho medo.
- Não vamos mais falar sobre isso, poderá te deixar deprimida. Vamos passear mais um pouco?
- Mas não é tarde?
- No lugar onde eu quero te levar é pertinho daqui.
  Assim as duas levantaram-se e foram em trote no cavalo de Diana, para uma casa que afeiçoava muito Diana, esta casa mesmo que poderá ter vindo a sua cabeça neste momento. A casa da mãe Joana.
  Desceram a beira do rio abaixo, e logo estavam na beira daquela simples casinha. Mãe Joana já a esperava na porta, como se já soubesse da visita de Diana, a velha estava com umas flores na mão, por falar nisso a casa de Joana era repleto de flores, te todos os tipos, mais as sua preferidas eram as rosas, como Joana amava aquelas rosas.
  - Minha filha você veio me visitar?
- Oh dona Joana, estava passando e resolvi dar um pulinho aqui...
- E trouxe sua sobrinha?
- Não, ela não é minha sobrinha, é minha enteada, sou noiva do pai dela.
- Pobre menina, sofre tanto...
- Como assim Dona Joana?
- Nada não, deixa pra lá, essa menina está com um olha sofrido.
- A senhora às vezes fala umas coisas que me assusta Dona Joana...
- Minha menina, não precisa de se assustar, qualquer um percebe no olhar de uma criança quando ela está triste, mas e você, como está?
- Estou muito bem Dona Joana, trabalhando, cuidando dos meus animais, e agora com esta companhia doce desta menina linda...
- Então ela já está morando com você?
- Não, não, ela não vira morar comigo, ela mora com a mãe...
- Mora com a mãe? Não entendo...
- O que não entende?
- Ela, morar com a mãe, ela visita a mãe, ela não mora com a mãe, a mãe dela está perto, mas está longe, está longe, muito longe...
- Como assim Dona Joana?
- Minha cabeça dói minha filha, dói muito, acho melhor fazer um chá.
- Eu devo ter algum comprimido aqui na minha bolsa...
- Não, não, deixa seus remédios, eu tenho os meus, as ervas que me curam, e eu cuido delas. Mas agora vou tomar meu chá.
- A gente também está de saída, passei só para que você conhecesse a menina.
- A sim, muito linda ela, ela deve ter saído à mãe.

  Diana ficara sem entender, mas deveria ser alguma coisa na cabeça de Dona Joana mesmo, ela estava confusa, parecia confusa segundo Diana. Era melhor deixa-la um pouco sozinha, saíram para voltar à fazenda.

domingo, 22 de dezembro de 2013

CAPITULO XVIII

CAPITULO XVII
Com o passar dos dias aquele sentimento confuso ia crescendo dentro de Hanz e ele não sabia mais o que fazer. Aquela noite estava sendo muito difícil para ele, mais uma vez a insônia tomava conto de seu ser.
  Foi até a varanda, onde encontrou Dalila, esta por sua vez ao ver que Hanz se aproximava tratou de enxugar as lágrimas que caiam sobre seu rosto.
- Por que choras?
- È muito difícil, mas muito difícil mesmo estar aqui na casa de mamãe.
- Você está chorando por estar na casa de sua mãe? Queria eu ter uma casa de mãe para me refugiar diante um problema.
- Você não entende, eu não entendo, quando saí daqui, foi para não mais voltar, sai brigada com meu pai, tudo por conta daquele homem que me roubou a juventude, saí segura, sai determinada, saí infelizmente menina.
- Mas você o amava...
- Amor? Não sei se poderia ser chamado de amor, ara uma pocessão, era um desejo de afrontar meu pai, meu pai o odiava, como o odiava, sequer proferia o nome dele. Praticamente tive que escolher entre meu pai e ele...
- Você fez sua escolha...
- Fiz, fiz uma escolha tola, infantil, pois eu ainda era criança, criança que queria ser mulher, que queria que os outros me vissem como mulher. Fracassei, não fui vista como mulher, mas como uma aventureira que age de modo inoportuno e imaturo.
- Errar é humano, você nunca pensou nisso?
- Errar? Errar realmente é humano, mas nem sempre o que é humano é aceitável pela sociedade.
- Profundo isso, mas eu não posso dar muito palpite, nunca fui um exemplo a ser seguido, nunca o quis ser.
-  Agora me vejo num beco sem saída, ou pelo menos a saída ainda não foi me mostrada, estou cada vez mais deprimida e não consigo sequer pensar em uma decisão findável.
- Decisão? A pouco tempo fiz uma, e por isso estou aqui hoje, mas, concordo com você no aspecto de não ser fácil.
- Fácil? Como desconheço esta palavra, se ao menos minha mãe detestasse ele, eu me sentiria mais segura, ela falaria “seu pai te avisou” e eu ficaria arrependida, mas não, ela gosta dele como se fosse seu filho, assim sempre o foi, nunca me impediu de me encontrar com ele, e quando saí de casa ela quem me deu apoio. Talvez se ela...
- Não, não tente colocar uma responsabilidade sua, em atos da sua mãe, talvez ela,  assim como você, não conseguira enxergar o produto interno deste homem que eu desconheço.
- Verdade, é muito fácil transferia a responsabilidade... Mas não quero falar sobre isso, quero paz, quero sossego.
- Mas quer falar sobre o que? Pode falar comigo, estou aqui para ouvir-te.
- Me conte um pouco sobre você, para onde você quer ir?
- Eu? Eu sinceramente não sei. Não tenho rumo, não tenho estadia fixa, tampouco amigos, vive muito tempo sozinho.
- Mas como assim sozinho?
- Sozinho, passei por muitos lugares, mas forasteiros não são bem aceitos. Cometi alguns erros, mudei-me muitas vezes, nunca consegui fazer que alguém gostasse verdadeiramente de mim, fui muito julgado, pouco ajudado. Mas aprendi uma coisa...
-  O que?
- Nunca subestime as coisas ruins, sempre há algo pior que poderia acontecer.
- Você foi um tanto quanto amargurado.
- É, fui, confesso. E até sou, as vezes olho meu passado, e vejo quão desperdiçado foi meu tempo, as vezes olho e vejo que passei por maus pedaços. E sabe o que é pior?
- Não, o que?
- É que ainda há muita coisa ruim que poderá acontecer, é imprevisível, incalculável.
- Você nunca se apaixonou?
- É, apaixonar? Não sei dizer, nunca tive a oportunidade, sou muito desconfiado... Quem haveria de querer um homem como eu? Um andante sem rumo, sem futuro...
- Nem um amor não correspondido?
- Amor não correspondido? Isso eu sei bem o que é, amei muito, pessoas e lugares, é como seu amasse este lugar e fosse obrigado a sair.
- Posso te dar uma coisa?
- O que?
- Posso?
- Pode, mas seja rápida, pode buscar seja o que for vai ser aceito de muito bom grado...
Não fora preciso dizer mais nada, Dalila, provocante beijou Hanz demoradamente, e saiu às pressas sem dizer mais nada, ainda enxugando as lágrimas restantes. Hanz surpreso, mas um sorriso disfarçado demonstrara o quanto lhe agradou aquele beijo.
A estadia de Julio na fazenda, estava até certo momento muito bem aceita. Mas nada tirava a curiosidade preceptiva de Marajó sobre o paradeiro daquele homem. Desconfiado, muito desconfiado encontrara um momento muito oportuno para conversar com Julio.
  Diana havia saído pela manha, queria ficar uns momentos a sós com a menina Pérola, e a levou para conhecer os animais da fazenda.
  Marajó chamou Julio em uma sala reservada e foi muito direto, assim como sempre foi.
- Sente-se Julio, não vai demorar o que eu tenho para falar-te mas é necessário.
- Sim senhor, prossiga.
- Sei que nada tenho com a vida do senhor, se assim o posso chamar, mas preocupo-me com minha filha e gostaria de saber sobre a sua filha.
- Sobre a minha filha? O que o senhor precisa saber?
- Você ainda tem algum contato com a mãe desta menina?
- O senho está preocupado que eu esteja com as duas mulheres?
- Não estou dizendo isto, mas também não descarto, não o conheço...
- Claro que eu tenho contato com ela, ela cria a minha filha, é impossível não manter contato. Mas na verdade é um pouco mais confuso que isto.
- Mais confuso? Como?
- A mãe de Pérola assim que a teve me abandonou, sumiu no mundo, nunca mais tive notícia. Pérola foi criada pela minha esposa, que conheci pouco depois de ter sido abandonado, ela não podia ter filhos e criou a Pérola como se fosse dela, criou um vínculo muito forte com a menina, tanto que com a separação não quis separa-las.
- É meu rapaz, é uma história bem confusa, mas e a mãe da menina, não tinha motivos para desaparecer?
- Não sei, ela não deu explicações, desapareceu apenas.
- Mas não procurou a polícia?
- Procurei, eles procuraram mas não encontraram nada, conformei-me, não tinha vestígios de nada. Sofri mas aprendi a conviver com o sofrimento.
- Está bom então, era tudo que eu queria saber, e pode ter certeza admito muito a  sua sinceridade, vejo que falo com um homem.
- É, um homem de quarenta anos não é?

- Realmente, quarenta anos, já é uma meia vida.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CAPITULO XVI

CAPITULO XVI
Diana já começara o dia, com uma notícia pelo menos de primeira instancia boa. Recebera uma correspondência, na qual continha uma carta de seu namorado, noivo. Abriu ansiosa.
  Sentia saudades dele, desde que voltara para a fazenda do pai, não mais o via, que estava fora do país estudando como sempre. O conheceu ainda nos tempos de faculdade, mas Júlio não fora seu colega de turma, ele sequer fez medicina veterinária, o conheceu nos corredores do prédio onde estudava, na época ele lecionava no prédio, dava aula de anatomia, e conceituado sempre foi naquela instituição. Era um pouco mais velho que Diana, mas não tanto, a diferença não chegava a vinte anos, dezoito para ser exato, enquanto ela desfrutava os meados da segunda década, ele já iniciava a quarta, uma época de mais experiência.
  Enfim, naquela carta, além de toda aquela conversinha de namorados, havia ainda o enunciado, no qual ele dizia que em breve estaria na cidade de Diana, e que a saudade já era tanta que não poderia esperar muito. Mas já adiantava que levaria sua filha caçula para passar uma temporada na fazenda, isso claro, se Diana não se incomodasse. Como se ela fosse se incomodar, ainda que nem conhecesse a pequena, só a tinha visto por fotos.
  Tratou logo de contar aos pais que Júlio estava vindo, estes muito satisfeitos, uma vez que para eles seria propício que a filha se casasse.
  Já no sítio de Jorge, com o raiar do sol, quase todos de pé, e o cheiro de café entrava em todos os quartos daquele lugar, Tíbia pulara a janela, e fora acordar o dono, que levantou-se com aquela cara de sono, natural, uma vez que demorara tanto para pregar os olhos.
  Ao chegar na cozinha, e principalmente ao ver Dalila ali sentada, se sentiu um pouco constrangido, agora tinha noção do quanto tinha sido abusado, falando tão diretamente a ela, esquecendo se até da condição de casada na qual ela se encontrava.
  Sentou-se, e nisso Dona Margarida veio servindo-lhe o café, Jorge já tinha saído, e  D. Margarida depois de servi-lo pediu licença e se retirou para dar conta dos afazeres.
  Ele ficou ali, sozinho com Dalila, e com sua fiel escudeira Tíbia, que esperava esperançosa que um pedaço de pão caísse daquela mesa. Mas não precisaria de tanto, ora Dalila ora Hanz tratava de jogar um pedaço de alimento para a cadela.
  Continuavam calados, desviando o olhar, de vez em outra percebiam um olhar escapulido, Dalila as vezes olhava até descaradamente, e isso fazia que Hanz ficasse ainda mais constrangido, nunca se constrangera tanto.
  Tomou um gole de café ainda quente, e começou a engasgar, levantou-se apressado e retirou-se da mesa, enquanto ela o acompanhava com o olhar.
  Estava confuso, uma mulher casada, olhando tanto para ele, sentia-se culpado, ainda que não tivesse feito nada de mais, mas se sentia mal pois Jorge confiou nele sem ao menos o conhecer. O levou para sua casa. E agora ele se engraçando pela irmã dele, e o pior mulher casada. Mas o que podia fazer? Sentira algo por ela, algo que não conseguia explicar, talvez uma atração, ela era uma mulher muito atraente e também do jeito que andava chamava muita atenção da maioria dos homens.
   Agora já com Jorge, tratava de ajuda-lo na alimentação dos animais, no meio de uma conversa Jorge comentara com ele sobre a estadia de Dalila na casa. Quando ele começou a falar, Hanz já ficou alerta de imediato pensou que Jorge poderia sabe por qual motivo estar desconfiado de algo, mas não. Jorge o contou que Dalila tinha abandonado o marido, devido a violência impregnada nos atos dele, e que tinha vindo para o sítio, mas para Dona Margarida ela estava lá só por um tempo, Margarida venerava o genro e não gostava nem de pensar na possibilidade de Dalila ter o abandonado.
  O fato de Dalila estar separada do marido de certa forma deu uma esperança a Hanz, mas mesmo assim a insegurança tomava conta dele, no caso tinha muito receio, não conhecia Dalila, talvez ela ainda amasse o marido, poderia ser só uma crise. Mas também poderia não ser só essa crise, e esta era a esperança de Hanz.
  Continuariam conversando a tarde inteira como o de costume, recente costume.
  Passaram-se alguns dias, era mais ou menos umas duas horas da tarde quando chamaram Diana no local onde trabalhava, um dos empregados de seu pai dizia que alguém precisava dela na fazenda, tampouco explicou por que.
  Diana, como sempre com aquele jeito meio despojado apressou-se para chegar mais rápido, pensando ser algo acontecido com Iracema, ou ainda quem sabe com a mãe.
  Mas não, felizmente não era nada com a mãe, e menos com a irmã. Finalmente as malas ainda sobre o sofá demonstrava que alguém havia chegado naquela fazenda, e era bem quem ela tanto esperava.
  Deparou-se com Júlio ainda naquela sala, e depois de um forte abraço no enamorado, ele tratou de apresenta-la a menina.
  Pérola era uma criança de oito anos, um pouco receosa, bem diferente da criação que Diana teve, por mais que fora de uma família de fazendeiros os estigmas bucólicos eram presentes na vida da veterinária.
   Já na menina o que se notava, era não mais que uma educação típica dos lares urbanos, um pouco mais delicado que o habitual para uma cidade do porte da qual fazia parte as instâncias da fazenda de Marajó.
  Depois da eventual receptiva trataram de acomodarem-se.
Mais a tarde ali chegou o patriarca da família, Marajó, curiosidade muita tinha pelo modo de vida do Dr. Prof. Julio. Decerto a ideia do pretendente da filha ser mais velho o agradava muito, quanto mais velho mais respeito indicaria, mais seriedade no relacionamento.

  O único problema fora que Marajó, ainda que soubesse que Julio tivera uma filha pensara que o mesmo viúvo era, e quando soube que Julio era divorciado ficou com o pé um pouco atrás. Com certeza averiguaria o porquê do relacionamento dos dois não ter dado certo...

domingo, 15 de dezembro de 2013

CAPITULO XV

CAPITULO XV
  Hanz e Jorge haviam feito até bastante coisa naquele primeiro dia no sítio. Hanz explicava a Jorge que sabia que embora não fosse possível explicar,  tinha algo que o chamava para algum lugar, talvez a sua história escondida o infligisse tanto, e o fazia ter tanta incerteza e desconfiasse tanto das pessoas. Precisava tomar um rumo e encontrar não só este local, mas se encontrar.
  Ao cair da tarde voltaram para a casa, onde puderam tomar um banho. Depois do jantar foram se deitar.
  Algumas horas depois daquele momento, Hanz, que não conseguira pregar o olho, levantou-se para tomar um ar, uma água, sei lá, qualquer coisa que o fizesse sentir o sono, e deixar este entranhar nele.
  Foi até a varanda, e quando lá já estava, surpresa foi ao perceber que alguém o observava, virou de repente, e ao perceber que Dalila ali estava, ficou meio perdido. Ficou totalmente perdido.
  Até por que, Hanz conversava com Tíbia, coisa que fazia muita falta a ele, e foi justamente por está situação que fez Dalila tomar coragem e ir até a varanda. Disse-lhe primeiramente que a sua ida até aquele recinto, se devia as vozes que escutara quando fora até a cozinha para tomar água, e como as vozes eram mono-direcionais, logo ficou confusa, curiosa, e ao se deparar com um homem ao conversar com animal, não pode gerar nela uma atitude diferente a não ser um riso discreto de alívio.
 - A senhora deve estar me achando meio louco né?
- Meio? Não, imagina, sempre me deparo com homens conversando com animais por ai...
- Meu Deus, sabe, é que sempre fui muito só, a muito tempo ando, viajo, e não tenho contato a fundo com ninguém. Vivo sozinho.
- Ai, começa a conversar com os cães?
- Com os cães, com os cavalos... Sabe, nenhum deles nunca me ofendeu, e principalmente nunca me abandonou.
- As vezes eu tenho vontade de não ter rumo, de sair por aí, viajar sem me preocupar com nada, assim como você...
- Então você pensa que eu não me preocupo com nada? Me preocupo com muita coisa sabia?
- Tipo...
- Me preocupo em saber quem eu sou, por que eu sou. Nunca entendi o porque daqueles vizinhos terem querido meus irmãos e nunca terem mencionado a possibilidade de cuidar de mim. Durante anos menti para mim mesmo, dizendo que escolhi ficar com minha mãe, quando ela estava doente, mas fui obrigado, não tive opção, ou ficava com ela doente, coisa que eu não me arrependo, ou eu estava na rua. Não me quiseram...
- Deve ter sido muito duro, desculpas pelo mal juízo que fis do senhor...
- Horas, não é necessário me chamar de senhor, não sou tão velho assim.
- Sou casada senhor, não é bom que tenha tratamentos íntimos com outro homem.
- Você é casada, eu não. Eu que devo chama-la de senhora, e não você.
- É melhor ir parando esta conversa por aqui, pois pode ir para um caminho que eu não quero ir...
- Não quer ou não pode? Ou pensa que não pode?
- Melhor eu ir me deitar novamente. Mas boa noite.
- Boa noite, mas uma pessoa que não me dá respostas.
  E assim Dalila entrou casa adentro. Com olhar espantado, mas cara de felicidade, ela estava em um momento frágil de sua vida e principalmente de seu casamento, e inegavelmente poderia dizer que Hanz chamava-lhe muita de sua atenção.

  Hanz ficou ali mais um pouco, mas logo, foi deitar-se, dormir não sei, mas deitar-se era coisa certa, embora essa não fosse sua melhor intenção principalmente depois da conversa com Dalila.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

CAPITULO XIV

CAPITULO XIV
A noite passou e no cair da manha do outro dia, o médico estava na fazenda para examinar Iracema. Depois de quase uma hora com ela no quarto, e com a mãe anciosa do lado de fora, ele saiu e disse para D. Nanci, que realmente pelo que acompanhara do quadro de Iracema, ela tinha melhorado significadamente, pois recuperara a sensibilidade, ainda de forma defecitária, mas bem melhor do que antes.
  Diana havia saído cedo, a história daquela casa misteriosa ainda lhe instigava, e naquela manha estava decidida em voltar naquele recinto e tirar a dúvida ou a cisma de uma vez por todas.
  Novamente cavalgando foi até aquela frondosa árvore a beira daquele rio calmo, onde ficou por alguns instantes. Ainda lhe faltava coragem. Não sabia por que, mas a curiosidade se mesclava com o receio. Mas uma coisa era certa, a dúvida não poderia persistir.
  Mas como chegar a casa de um desconhecido? Como explicar-se? E se não tivesse ninguém lá? A dúvida persistiria? Com certeza sim? Hipóteses múltiplas passavam em sua cabeça, pensava na hipótese de ser ladrões. Mas logo via que era besteira, ladrões não teriam tamanha organização, teriam?
  Se já tinha saído de casa com este propósito, não iria voltar para lá sem uma resposta, ainda mais desistir sem ao menos tentar? Não, estava fora de cogitação. Levantou-se daquela sombra fresca, e montou-se na égua, e cavalgou a beira do rio, para lá chegar. Em pouco tempo já estava lá. Para sua surpresa todas as janelas da casa, que não eram muitas, estavam abertas, e lá no quintal uma velha senhora estendia lençóis brancos, limpos, alvos, no varal. Diana estava cada vez mais receosa.
  Mas tinha que saber o por que daquela casa tão isolada, e na verdade, estava procurando um por que , pois não tinha motivo nenhum para estar ali, era curiosidade, curiosidade da mais pura.
  Chamou, ainda um pouco longe, mas chamou, e a velha senhora respondeu ao chamado da moça, ainda que tenha sido aquele tradicional “ô de casa” de quando não se sabe quem se chama.
   A senhora, foi chegando mais perto, e a chamou para dentro.
- Entre minha filha, achegue-se pra cá.
Diana  encantada ainda por ser uma senhora a dona dali, entrou e foi logo querendo dar uma explicação.
- É que eu estava com sede, a senhora poderia me dar um pouco de água?
- Pode entrar minha filha, a casa é nossa...
- Ah, não precisa, aqui mesmo esta bom.
- Entre, insisto. Você não sabe como é ruim ser assim tão solitária.
Diana não podia e nem queria dizer não a tão bondosa senhora. E foi entrando atrás dela.
  Ao chegar na cozinha, como de costume das casas de interior, a dona já disse para que ela se sentasse sem cerimônias, e antes mesmo de iniciarem uma conversa, ela trouxe algo para Diana tomar.
  Ela assustou-se.
- O que é isso?
- Ué, não foi você mesma que pediu a água?
- Ah, sim, verdade...
- Estes jovens de hoje em dia, pouco sabem o que querem...
- Verdade...
 -  Qual é seu nome moça?
- Diana, meu nome é Diana, e o da senhora?
- Meu nome é Joana, e assim me chamam, Mãe Joana.
- Joana, é um nome bonito.
- É, de nome a gente não reclama né, a gente não muda...
- Mas e a senhora vive só, neste lugar tão longe?
- Sim, moro sozinha, desde há muitos anos.
- E não é perigoso?
- Não, não é, não tenho nada que possam me roubar. Mas e você encontrou o que queria?
- Como assim?
- Eu sei bem que você já esteve aqui minha filha...
- Sabe? Como saber?
- Eu sei, e pronto...
- Perdoe-me, é que estava passando, e tive muita curiosidade. Confesso que entrei na casa.
- Eu percebi. Sou muito organiza, percebo cada coisa fora do lugar. Sem falar no meu radinho, deixei ele ligado, e quando cheguei estava desligado. Ele não desliga-se sozinho.
- Mas uma vez peço desculpas.
- E a curiosidade foi tanta que teve de voltar né? Desculpa que está com sede?
- Confesso....
- Nessa rota quase não passa ninguém. Muito raramente alguém desvia.
- Mas agora já sei quem é que vive aqui, Mãe Joana, estou satisfeita. Mas vou-me indo tenho muito trabalho...
- Vá então, não quero atrasar você, mas volte...
E assim Diana foi saindo, quando ao longe, ela gritou, cuide bem dos seus animais.

  Diana estava confusa, em momento algum dissera a Joana sobre seu trabalho. Mas era melhor tirar isso da cabeça. Voltou para a fazenda. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

CAPITULO XIII
Hanz entrou naquele pequeno recinto, sentou-se em uma cama à beira da janela, pensativo como sempre. Não podia acreditar, que depois de tanto tempo encontrara uma cidade onde ao invés de confusão encontrou amizade, acolhimento, não estava acostumado com isso, tinha medo de colocar tudo a perder. Não sabia se realmente havia chegado no lugar onde tanto procurava,  não sabia se o que procurava era um lugar ou um estado de espírito onde pudesse ter uma vida recomeçada. Talvez ali naquele lugar pudesse ter a calma apaziguadora de tantos ares.  
         
 Poderia reconstruir ali, uma vida, ainda que nunca encontre um sentido em sua vida. Tinha uma vaga lembrança do que era família quando tinha uma remota lembrança de sua mãe, e muito antigamente de seu pai, até que começaram a discutir muito, as brigas a tarde eram tão frequentes, que ele e os irmãos não conseguiam sequer dormir quando caia a noite. Tentava lembrar-se de algo que houvessem falado durante as brigas, mas não lembrava.

  Era impossível, era só uma criança na época. Mas ainda que gostasse muito do pai, e o idolatrasse, sua mãe para ele era uma santa, alguém imensuravelmente pura, e ele detestava escutar o pai gritando com ela, por isso a maioria das vezes até tapava os ouvidos na esperança de sofrer menos com as brigas. Sua vida continuava conturbada, mas foi na infância que teve provações de tolerância.

  Estava tão pensativo que nem percebeu quando Dona Margarida o chamou para o jantar, ela repetiu o chamado duas ou três vezes, até que ouviu, disse que já ia.

  Levantou-se deixando um casaco sobre a cama, ali, jogado. Chegou na cozinha, seu prato já estava ali sobre a mesa, pronto, como se sempre tivessem o costume de tira-lo, como se Hanz já fosse parte da família.
  Jorge e Margarida já estavam ali, sentados à mesa, e alem dos dois Dalila, filha de Margarida, uma linda mulher, calada, muito calada. Jorge foi logo tratando de apresentar a irmã que passava uns dias na casa da mãe.

  Hanz cumprimentou ainda meio sem graça, e ela respondeu ao cumprimento. Jorge explicou a Dalila que Hanz era um velho amigo, (lembrando que eles nunca tinham se visto), ela não quis saber muito. Nem podia saber, com o marido ciumento que tinha, qualquer palavra atravessada seria para ela um tormento.

  Terminaram o jantar, e enquanto Dalila e D. Margarida foram para a cozinha lavar a louça, Jorge e Hanz foram para a varanda conversar um pouco.


  Para a sorte de Hanz, Jorge não era um homem que gostasse de muitas perguntas, satisfazia-se com apenas o que Hanz contava de espontânea vontade. Depois de uma meia hora de conversa jogada fora, foram se recolher, naquela casa todos dormiam cedo, e acordavam mais cedo ainda.