quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

CAPITULO XXII

CAPITULO XXII
  Toda aquela história deixou Julio um pouco intrigado, aquele rosto tão delicado, tão pálido sobre aquele catre, o causava sentimento de pena, e não era para sentir pena? Uma mulher que certamente tão jovem era. Saíram daquele quarto, e posteriormente daquela casa, não sabia por que motivo, mas Julio agora se sentia incomodado em estar com Diana, incomodado? Isto mesmo, sentia algo estranho, e mais do que isso se sentia muito estranho.
   Dona Joana preparava um café, como de costume buscara seu buquê de flores para enfeitar a mesa, sobre aquela mesa, a mesma vasilha de sempre, e daquela rosa vermelha, de um vermelho bem vivo, era tratada com muito carinho, com muito temor.  Escolhera aquela como sempre escolhia a melhor das melhores, tinha acabado de desabrochar, estava firme, mas toda firmeza acabara quando caíra sobre aquela poça d´água sobre a vasilha. Despedaçou a pobre rosa, aquelas pétalas se afastavam, e como se afastavam, o olhar de mãe Joana continuava fixo sobre aqueles estilhaços de pétalas. Mais uma vez, e se afastava, mas por quê? Já não era hora de se juntarem? Já não havia passado tempo de mais? Não seria obra do destino? A isso se ela ainda conseguisse acreditar em destino; não era se seu feitio aguardar por um destino.
   Mas que destino era esse que Mãe Joana tanto esperava? Ninguém se arriscaria a dizer, mas a rosa nunca mentia, com todo sua demonstração, com toda sua mística aparência. Era inútil, o que deveria era contentar-se com a informação indesejada, voltar a seu café, e quem sabe em outra ocasião teria a resposta que tanto procurava. Teria enfim o regresso.
  Dona Margarida e Jorge já estavam a caminho do sítio, com a vergonha que passara em frente a genro, em frente ao cunhado, não restara muito a não ser voltar para sua vida monótona do sítio, voltar e ver aquela dissimulada que chamava de filha, ver aquela que não dava valor sequer na coragem, à disposição, àquela que não tinha uma coisa tão fundamental chamada vergonha na cara. Mas vergonho isso Dona Margarida já tinha que sobrasse.
  Jorge permanecia calado, como sempre, observador não tinha muito que dizer consolar a mãe? Não, era inútil, dizer o que? Não podia defender a irmã, não queria isso. E dona Margarida, também não tinha coragem sequer de olhar na cara do filho, não tinha coragem de olhar na cara de ninguém, enquanto na rua nem cumprimentaram aqueles que cruzaram seu caminho. Durante o percurso da cidade até o sítio,  não minto dizendo que ela pensava no que fazer perante a situação, até porque ela não conseguia pensar em outra coisa senão a vergonha passada em ouvir tais palavras. Continuaram a viagem.
  Dalila não sentia muita coisa, não era acostumada a sentir remorso, na verdade cansou de fingir ser uma boa mulher, pelo menos para o marido, embora tivesse sido descoberta de modo tão escroto. Preferia dizer que ele era violento, era melhor para ela se fazer de vítima, ninguém precisava saber que ela era daquele jeito, principalmente Hanz, e ela decerto faria de tudo para esconder daquele homem a espécie de mulher que era, ele, no entanto não fazia tão diferente, Dalila não precisava saber que ele não deixava de ser um assassino, foragido talvez até da polícia. Ou pior, Dalila não precisava saber que ele era um nada, sem ninguém. E entre esses dois surgia um sentimento, um sentimento verdadeiro? Acredito duvidando, a verdade não era bem a palavra que se findava na construção de cada um destes personagens.
  Mas era melhore acabar com aquela melação de casal adolescente, digamos que não era a melhor hora para contar a Dona Margarida que estavam juntos, ela não entenderia. Ele foi para o estábulo, não antes de ser arrebatado por um beijo ardente de Dalila, que logo fora para cozinha fazer as vezes de boa moça dona de casa, e ajudante da mãe.
Ajudante esta que a mãe nunca quis, ajudante esta que era não mais que um inconveniente ali.
Logo a mãe chegara naquele casa, entrou sem nada dizer, e quando Dalila veio pergunta-lhe o que fora fazer tão cedo, a mãe não se ocupou em sequer dar uma resposta filha, a mesma foi para o quarto e passou o dia ali, sozinha, pensando, repensando.
  Dalila foi atrás de Jorge, que certamente diria algo sobre o porquê da mãe está tão desconsolada.
- Como assim Dalila? O porquê de mamãe está tão desconsolada? Você sabe melhor do que eu.
- Não entendo, disse a nossa vítima
- Dalila, comigo não precisa mentir, eu te conheço, eu sei do seu jeito, a gente nunca teve segredos.
- Segredos? Realmente maninho, a gente sempre foi muito ligado, você sempre me deu cobertura, mas desta vez não sei por que a mamãe pode estar deste jeito.
- Não? Vou te dar uma dica, fomos à casa de Johan hoje, ou deveria dizer sua antiga residência?
- Aquele ordinário, inventou horrores sobre mim...
- Inventou? Você tem certeza que ele inventou Dalila?
- Para mamãe ter me voltado tão revoltada, só pode ter escutado um monte de mentiras.
- Mentiras? Eu sei que não é mentira, e você sabe que não é mentira.
- Não vou discutir com você Jorginho...
- Não vou te dar nem resposta, você sabe que eu detesto este apelido.

Dalila deu não mais que um sorriso, e não parecia estar muito preocupada com a mãe, nunca se preocupou, não seria agora que começaria a se preocupar. Jorge foi estar com Hanz, mas preferiu não comentar nada sobre a irmã.  

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