CAPITULO
XXII
Toda aquela história deixou Julio um pouco
intrigado, aquele rosto tão delicado, tão pálido sobre aquele catre, o causava sentimento
de pena, e não era para sentir pena? Uma mulher que certamente tão jovem era.
Saíram daquele quarto, e posteriormente daquela casa, não sabia por que motivo,
mas Julio agora se sentia incomodado em estar com Diana, incomodado? Isto
mesmo, sentia algo estranho, e mais do que isso se sentia muito estranho.
Dona Joana preparava um café, como de
costume buscara seu buquê de flores para enfeitar a mesa, sobre aquela mesa, a
mesma vasilha de sempre, e daquela rosa vermelha, de um vermelho bem vivo, era
tratada com muito carinho, com muito temor.
Escolhera aquela como sempre escolhia a melhor das melhores, tinha
acabado de desabrochar, estava firme, mas toda firmeza acabara quando caíra
sobre aquela poça d´água sobre a vasilha. Despedaçou a pobre rosa, aquelas
pétalas se afastavam, e como se afastavam, o olhar de mãe Joana continuava fixo
sobre aqueles estilhaços de pétalas. Mais uma vez, e se afastava, mas por quê?
Já não era hora de se juntarem? Já não havia passado tempo de mais? Não seria
obra do destino? A isso se ela ainda conseguisse acreditar em destino; não era
se seu feitio aguardar por um destino.
Mas que destino era esse que Mãe Joana tanto
esperava? Ninguém se arriscaria a dizer, mas a rosa nunca mentia, com todo sua
demonstração, com toda sua mística aparência. Era inútil, o que deveria era
contentar-se com a informação indesejada, voltar a seu café, e quem sabe em
outra ocasião teria a resposta que tanto procurava. Teria enfim o regresso.
Dona Margarida e Jorge já estavam a caminho do
sítio, com a vergonha que passara em frente a genro, em frente ao cunhado, não
restara muito a não ser voltar para sua vida monótona do sítio, voltar e ver
aquela dissimulada que chamava de filha, ver aquela que não dava valor sequer
na coragem, à disposição, àquela que não tinha uma coisa tão fundamental
chamada vergonha na cara. Mas vergonho isso Dona Margarida já tinha que
sobrasse.
Jorge permanecia calado, como sempre,
observador não tinha muito que dizer consolar a mãe? Não, era inútil, dizer o
que? Não podia defender a irmã, não queria isso. E dona Margarida, também não
tinha coragem sequer de olhar na cara do filho, não tinha coragem de olhar na
cara de ninguém, enquanto na rua nem cumprimentaram aqueles que cruzaram seu
caminho. Durante o percurso da cidade até o sítio, não minto dizendo que ela pensava no que
fazer perante a situação, até porque ela não conseguia pensar em outra coisa
senão a vergonha passada em ouvir tais palavras. Continuaram a viagem.
Dalila não sentia muita coisa, não era
acostumada a sentir remorso, na verdade cansou de fingir ser uma boa mulher,
pelo menos para o marido, embora tivesse sido descoberta de modo tão escroto.
Preferia dizer que ele era violento, era melhor para ela se fazer de vítima,
ninguém precisava saber que ela era daquele jeito, principalmente Hanz, e ela
decerto faria de tudo para esconder daquele homem a espécie de mulher que era,
ele, no entanto não fazia tão diferente, Dalila não precisava saber que ele não
deixava de ser um assassino, foragido talvez até da polícia. Ou pior, Dalila
não precisava saber que ele era um nada, sem ninguém. E entre esses dois surgia
um sentimento, um sentimento verdadeiro? Acredito duvidando, a verdade não era
bem a palavra que se findava na construção de cada um destes personagens.
Mas era melhore acabar com aquela melação de
casal adolescente, digamos que não era a melhor hora para contar a Dona
Margarida que estavam juntos, ela não entenderia. Ele foi para o estábulo, não
antes de ser arrebatado por um beijo ardente de Dalila, que logo fora para
cozinha fazer as vezes de boa moça dona de casa, e ajudante da mãe.
Ajudante
esta que a mãe nunca quis, ajudante esta que era não mais que um inconveniente
ali.
Logo
a mãe chegara naquele casa, entrou sem nada dizer, e quando Dalila veio
pergunta-lhe o que fora fazer tão cedo, a mãe não se ocupou em sequer dar uma
resposta filha, a mesma foi para o quarto e passou o dia ali, sozinha,
pensando, repensando.
Dalila foi atrás de Jorge, que certamente
diria algo sobre o porquê da mãe está tão desconsolada.
-
Como assim Dalila? O porquê de mamãe está tão desconsolada? Você sabe melhor do
que eu.
-
Não entendo, disse a nossa vítima
-
Dalila, comigo não precisa mentir, eu te conheço, eu sei do seu jeito, a gente
nunca teve segredos.
-
Segredos? Realmente maninho, a gente sempre foi muito ligado, você sempre me
deu cobertura, mas desta vez não sei por que a mamãe pode estar deste jeito.
-
Não? Vou te dar uma dica, fomos à casa de Johan hoje, ou deveria dizer sua
antiga residência?
-
Aquele ordinário, inventou horrores sobre mim...
-
Inventou? Você tem certeza que ele inventou Dalila?
-
Para mamãe ter me voltado tão revoltada, só pode ter escutado um monte de
mentiras.
-
Mentiras? Eu sei que não é mentira, e você sabe que não é mentira.
-
Não vou discutir com você Jorginho...
-
Não vou te dar nem resposta, você sabe que eu detesto este apelido.
Dalila
deu não mais que um sorriso, e não parecia estar muito preocupada com a mãe,
nunca se preocupou, não seria agora que começaria a se preocupar. Jorge foi
estar com Hanz, mas preferiu não comentar nada sobre a irmã.
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