quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

CAPITULO XXIV
Já se aproximava a hora do jantar, Dona Margarida saiu daquele quarto, e fora até a cozinha, Dalila pela primeira vez desde a estadia naquela casa, não era muito de querer ajudar nos afazeres domésticos. Com os olhos baixos, nem percebera quando a mãe chegara à cozinha. A mãe a observava, aquele olhar era não mais do que de condenação, sentia vergonha de ter uma filha com aquele tipo de coragem, a coragem de desrespeitar o outro, a coragem de fazer pouco próprio sacrifício, tanto brigara pelo amor daquele homem para depois jogar fora não com um, mas com vários desejos de momento.
  Mas Dalila não pensava assim, gastava mais seu tempo pensando nela mesma.
  Eis que o jantar estava na mesa, e logo depois de se sentarem Dalila e a mãe, chegaram Hanz e Jorge, o primeiro ainda sem saber ao certo o que acontecia, o que atordoava tanto Dona Margarida, e o que afligia tanto sua amada, a ponto de esta ficar tão ressabiada. Ele, Hanz foi o primeiro a ser servido, seguido de Dona Margarida e por fim Jorge. Era costumeiro que servisse primeiro a matrona. Mas não Dalila tinha um fetiche pela afronta. Isso não era novidade para ninguém.
  Jantavam em silêncio. Hanz, inocente como nunca fora, ou pelo menos nunca pareceu ser, até tentou puxar conversa com Dona Margarida, que era sempre bem conversada, mas não adiantava, ela se mantinha resistente. Na verdade o seu coração de mãe, era no mínimo desconfiado, não conseguia mais ver Hanz como um bom homem, tinha medo de algum envolvimento dele mais a finco com seus filhos.
  Alguns dias se passaram, e o contato da mãe e a filha não era assim tão proveitoso, e nada harmônico. Era noite e todos dormiam, exceto Dalila e Hanz, que aproveitam enquanto os outros dormiam , para “conversar”.
  E nem perceberam que estavam sendo olhados, e quem olhou sentiu não mais do que ódio, daqueles dois, por mais que desconfiasse, a certeza lhe atordoava. A insegurança certamente lhe trazia dúvidas. Nem Hanz nem Dalila percebia a presença de ninguém, apenas sentiram ter alguém, quando escutara o barulho de um objeto cair ao chão, seguido de passos rápidos.
  Neste momento, tanto Dalila quanto Hanz ficaram ariscados, ficaram um  tempo ali parados olhando um para a cara do outro. Mas depois de um tempo cada um foi para o seu aposento dormir.
  O resto daquela noite fora no mínimo tenso, nenhum nem outro sabiam o que aconteceria na manhã seguinte. Mas na manhã seguinte nada aconteceu. Nem durante todo aquele dia. Porém ao cair da tarde, quando Hanz e Jorge voltaram do serviço, encontraram nada mais do que as malas, ou melhor, algumas peças de roupa dele, em um saco. Ele já imaginando do que se tratara, nada disse. Dona Margarida foi bem franca, a dizer-lhe que só queria uma coisa: que ele fosse embora dali, não dali a algum tempo, mas imediatamente. Ele, claro nada alegou, sabia que estava errado, realmente fora abusivo, aproveitou-se demais do que lhe foi oferecido, era digno de expulsão. Ainda, antes de sair, deu um forte abraço de agradecimento em Dona Margarida que se manteve imóvel. Jorge permanecia calado perto do portal da saída, e a única coisa que expressava era algumas lágrimas caindo sobre o rosto.
  Hanz já ia saindo, quando Dalila chegou na sala com sua bagagem:
- Espere, se vai você, irei eu junto.
- Dalila, você sabe que não pode vir, não tenho nada a lhe oferecer.
- De você só quero uma coisa, o seu amor.
- Eu sei, muito romântico, mas não há amor que resista à fome, ao acalento.
- Não existe amor se não for verdadeiro. E o amor verdadeiro tudo supera. Eu superarei tudo com você meu, só meu amor.
  Nisso a própria Dona Margarida, disse:
- Não vai aceita-la? Aceite-a, tu sabes quem ela é?
- Vamos Dalila, mudei de ideia, não posso deixa-la aqui, se nem sua mãe está do seu lado, o que será de você? Se é para sofrer, sofra, mas sofra comigo que só quero seu bem.
  Dalila não pensou duas vezes, abraçou aquele homem, enquanto isso, Jorge saiu daquela sala, Hanz não mais o viu, nem para uma despedida, um agradecimento.
 Para Dona Margarida disseram não mais do que um adeus, e saíram Hanz, Dalila, Tíbia e o velho Alazão. Rumo a uma nova vida.
  Uma nova vida, não fácil, mas determinante no futuro de cada um. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CAPITULO XXIII

  CAPITULO XXIII
  Diana se aproximava daquela casa, não era primeira vez que sentia receio de ir até lá, e mais do que receio, era como se algo a puxasse para lá, uma espécie de imã, não estava só no querer dela, embora sentisse sim sempre vontade de estar ali.
  Pouco tempo após a saída da fazenda, já estava na porta daquela casa, ou melhor, no portão que dava acesso ao quintal, Diana percebeu então, estava novamente na casa de mãe de Joana.
  Antes que pensasse em chamar, mãe Joana já estava na porta, com aquele olhar de baixo para cima,  e um sorriso meio torto, convidou a moça para entrar, pelo olhar de mãe Joana, parecia que a mesma já sabia que seria visitada aquela tarde por Diana. E era este olhar que instigava cada vez mais uma ressabiamento de Diana.
- Venha, entre minha filha, pensei que não vinha mais, oh, que coisa, é claro que viria.
Diana permanecia calada, e agora olhava Joana de um modo que demonstrava medo, mas entrou, a atração era cada vez maior.
- Pode entrar menina, não tenha medo, venha, chegue até a minha cozinha. Minha cozinha é meu lugar preferido desta casa.
- Está bem, mas não devo demorar.
- Você nunca demora...
- Sempre tenho muita coisa para fazer, muito trabalho.
- Besteira, pra que trabalhar tanto, venha conversar comigo, venha perguntar o que você veio perguntar.
- Como assim? Perguntar? Eu não tenho perguntas.
- Deixa de se fazer de boba, eu sei bem que precisa falar comigo, senão não estaria aqui.
- Já disse que não tenho perguntas mas se a senhora insiste.
- Sente-se então.
  Diana sentou, e avistou ainda os estilhaços de algumas pétalas da rosa ao chão.
- Bonitas, flores, mas despedaçadas. O que ocorreu com elas?
- As minhas rosas? Ah as minhas rosas, minhas companheiras. Normal, vivem brincando, caem pelo chão, eu as apanho. Mas não adianta.
- Não entendo.
- O que você não entende?
- Rosas, brincando, companhia?
- Ah minha filha, você ainda tem muito que aprender, mas está certa, minhas rosas não brincam, elas são bem sérias.
- A senhora deve realmente gostar muito de flores, e deve se sentir bem sozinha também.
- Eu sozinha? Eu não recebo muitas visitas, e gosto muito das visitas, e gosto muito das flores, e principalmente das rosas. E principalmente da rosa.
 - Mãe Joana, posso perguntar-lhe uma coisa?
- Claro, enfim fará a pergunta...
- As vezes a senhora fala umas coisas tão esquisitas, que eu não entendo, tem horas que parece saber o que acontece, mas mistura com um mundo surreal. Não acredito muito nestas coisas, mas a senhora é envolvida por um tipo de magia?
- Direta menina, muito direta, não é a primeira pessoa que me pergunta isto.
- Mas é? Ou pelo menos se considera?
- Digamos que sou uma pessoa bem vivida, com idade bastante para ter um pensamento que vai além da realidade. Sou uma senhora que vive só, mentira, que vive muito bem acompanhada da solidão, e do meu roseiral.
- Está bem, não entendi muito, mas tudo bem...
- Talvez um dia você entenda. Está vendo aquele roseiral?
- Claro, tens belas flores.
- Pois é, está sempre florido. Sempre florido. Mas um dia ele vai parar de florir.
- Não, mas isso vai demorar muito, ela ainda vai te fazer muita companhia.
- Não, não quero que demore muito, já estou ansiosa para que ela pare de florir.
- Mas porque?
-  Faz séculos que aguardo este dia.
- Séculos, como assim séculos?
- Eu disse séculos? Não quis dizer anos. Mas vamos parar de falar nisso, já estou com a cabeça começando a doer.
- A senhora sempre reclama de dores na cabeça. Quer que eu a leve em um médico?
- Não. Não precisa.
- Claro que não, mas talvez se trouxesse meu noivo aqui, ele pode te ajudar.
- Seu amor? A não, ele está muito longe.
- Não, não está, esta a poucos quilômetros daqui...
- Não , está longe.
  Depois disso Mãe Joana saiu e deixou Diana ali sozinha, que acabou deixando aquela casa. Agora já não estava com tanta agonia, se sentia leve, tranquila, mas uma última coisa a instigou, ao sair da casa, ao passar pela roseira, está apresentava-se com as folhagens molhadas, e brilhavam muito. Poderia ser que Mãe Joana tivesse a aguado, mas aquele brilho chamou muita atenção, tanta que ela foi até a roseira e passou a mão em algumas das folhas “molhadas”, mas elas estavam perfeitamente enxutas. E ao se afastar delas, percebia agora em vez de brilho, o ofuscar da poeira sobre as folhas.

  Agora teve pressa de sair dali, sentiu um arrepio, pegou seu cavalo, e cavalgou, não com a vagareza que estava acostumada, mas num galope fora do comum. Pouco tempo depois já estava longe o bastante.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

CAPITULO XXII

CAPITULO XXII
  Toda aquela história deixou Julio um pouco intrigado, aquele rosto tão delicado, tão pálido sobre aquele catre, o causava sentimento de pena, e não era para sentir pena? Uma mulher que certamente tão jovem era. Saíram daquele quarto, e posteriormente daquela casa, não sabia por que motivo, mas Julio agora se sentia incomodado em estar com Diana, incomodado? Isto mesmo, sentia algo estranho, e mais do que isso se sentia muito estranho.
   Dona Joana preparava um café, como de costume buscara seu buquê de flores para enfeitar a mesa, sobre aquela mesa, a mesma vasilha de sempre, e daquela rosa vermelha, de um vermelho bem vivo, era tratada com muito carinho, com muito temor.  Escolhera aquela como sempre escolhia a melhor das melhores, tinha acabado de desabrochar, estava firme, mas toda firmeza acabara quando caíra sobre aquela poça d´água sobre a vasilha. Despedaçou a pobre rosa, aquelas pétalas se afastavam, e como se afastavam, o olhar de mãe Joana continuava fixo sobre aqueles estilhaços de pétalas. Mais uma vez, e se afastava, mas por quê? Já não era hora de se juntarem? Já não havia passado tempo de mais? Não seria obra do destino? A isso se ela ainda conseguisse acreditar em destino; não era se seu feitio aguardar por um destino.
   Mas que destino era esse que Mãe Joana tanto esperava? Ninguém se arriscaria a dizer, mas a rosa nunca mentia, com todo sua demonstração, com toda sua mística aparência. Era inútil, o que deveria era contentar-se com a informação indesejada, voltar a seu café, e quem sabe em outra ocasião teria a resposta que tanto procurava. Teria enfim o regresso.
  Dona Margarida e Jorge já estavam a caminho do sítio, com a vergonha que passara em frente a genro, em frente ao cunhado, não restara muito a não ser voltar para sua vida monótona do sítio, voltar e ver aquela dissimulada que chamava de filha, ver aquela que não dava valor sequer na coragem, à disposição, àquela que não tinha uma coisa tão fundamental chamada vergonha na cara. Mas vergonho isso Dona Margarida já tinha que sobrasse.
  Jorge permanecia calado, como sempre, observador não tinha muito que dizer consolar a mãe? Não, era inútil, dizer o que? Não podia defender a irmã, não queria isso. E dona Margarida, também não tinha coragem sequer de olhar na cara do filho, não tinha coragem de olhar na cara de ninguém, enquanto na rua nem cumprimentaram aqueles que cruzaram seu caminho. Durante o percurso da cidade até o sítio,  não minto dizendo que ela pensava no que fazer perante a situação, até porque ela não conseguia pensar em outra coisa senão a vergonha passada em ouvir tais palavras. Continuaram a viagem.
  Dalila não sentia muita coisa, não era acostumada a sentir remorso, na verdade cansou de fingir ser uma boa mulher, pelo menos para o marido, embora tivesse sido descoberta de modo tão escroto. Preferia dizer que ele era violento, era melhor para ela se fazer de vítima, ninguém precisava saber que ela era daquele jeito, principalmente Hanz, e ela decerto faria de tudo para esconder daquele homem a espécie de mulher que era, ele, no entanto não fazia tão diferente, Dalila não precisava saber que ele não deixava de ser um assassino, foragido talvez até da polícia. Ou pior, Dalila não precisava saber que ele era um nada, sem ninguém. E entre esses dois surgia um sentimento, um sentimento verdadeiro? Acredito duvidando, a verdade não era bem a palavra que se findava na construção de cada um destes personagens.
  Mas era melhore acabar com aquela melação de casal adolescente, digamos que não era a melhor hora para contar a Dona Margarida que estavam juntos, ela não entenderia. Ele foi para o estábulo, não antes de ser arrebatado por um beijo ardente de Dalila, que logo fora para cozinha fazer as vezes de boa moça dona de casa, e ajudante da mãe.
Ajudante esta que a mãe nunca quis, ajudante esta que era não mais que um inconveniente ali.
Logo a mãe chegara naquele casa, entrou sem nada dizer, e quando Dalila veio pergunta-lhe o que fora fazer tão cedo, a mãe não se ocupou em sequer dar uma resposta filha, a mesma foi para o quarto e passou o dia ali, sozinha, pensando, repensando.
  Dalila foi atrás de Jorge, que certamente diria algo sobre o porquê da mãe está tão desconsolada.
- Como assim Dalila? O porquê de mamãe está tão desconsolada? Você sabe melhor do que eu.
- Não entendo, disse a nossa vítima
- Dalila, comigo não precisa mentir, eu te conheço, eu sei do seu jeito, a gente nunca teve segredos.
- Segredos? Realmente maninho, a gente sempre foi muito ligado, você sempre me deu cobertura, mas desta vez não sei por que a mamãe pode estar deste jeito.
- Não? Vou te dar uma dica, fomos à casa de Johan hoje, ou deveria dizer sua antiga residência?
- Aquele ordinário, inventou horrores sobre mim...
- Inventou? Você tem certeza que ele inventou Dalila?
- Para mamãe ter me voltado tão revoltada, só pode ter escutado um monte de mentiras.
- Mentiras? Eu sei que não é mentira, e você sabe que não é mentira.
- Não vou discutir com você Jorginho...
- Não vou te dar nem resposta, você sabe que eu detesto este apelido.

Dalila deu não mais que um sorriso, e não parecia estar muito preocupada com a mãe, nunca se preocupou, não seria agora que começaria a se preocupar. Jorge foi estar com Hanz, mas preferiu não comentar nada sobre a irmã.  

domingo, 29 de dezembro de 2013

CAPITULO XXI

CAPITULO XXI
  Dona Margarida levantou-se bem cedo, tinha que saber a versão de Johan, saber  por que dele ter agredido sua filha, sendo que o mesmo parecia a amar tanto. Antes que Dalila levantasse, ela chamou Jorge, que como sempre se dispôs a fazer a vontade da mãe.
  Foram eles, e não depois de muito tempo se encontravam nas redondezas da casa de Johan, sendo que tal casa não era tão distante do sítio de Dona Margarida, a casa estava localizada no centro da pequena cidade, e Johan por sorte ainda estava em casa.
  Ao bater na porta da casa, quem a atendeu foi uma mulher, que de primeira vista, Dona Margarida não reconhecera, e até pensara que pudera ser o pivô da separação.
  Foi recebida com muita educação, e não precisou nem perguntar para a mulher se apresentar, ela era irmã de Johan, e estava ali justamente para ajuda-lo nos afazeres domésticos. Ao recordar-se de Lúcia, que da última vez que vira ainda era uma menina, Dona Margarida tratou logo de pedir desculpas explicando a confusão que tinha feito.
- Sentem-se, gostaria de falar com o Johan?
- Sim, ele está?
- Está sim, anda meio adoentado, mas está sim. Vou chama-lo.
 A mulher saiu, e pouco tempo depois voltou acompanhada do irmão.
- Dona Margarida, como vai a senhora?
- Estou um pouco preocupada, e você meu filho?
- Um pouco gripado, mas nada demais. A que devo a honra de sua visita?
- Você bem deve imaginar, é Dalila.
- O que tem Dalila, aconteceu alguma coisa com ela? Estás doente?
- Não, não, é que recentemente ela me contou que vocês estão brigados, gostaria de saber o que aconteceu...
- Ela certamente devera ter te contado algo, não?
- Contou, mas conhecendo-a como a conheço, bem posso saber que ela fantasiou um pouco.
- Mas o que ela disse?
- Bem, é difícil para mim, mas só pela sua preocupação com a saúde dela, vejo que ela no mínimo faltou com a verdade.
- Ora, Dona Margarida já estou ancioso.
- Bem, segundo ela, seu ciúme doentio fez com que você fosse agressivo com ela, diz que você chegou a bater nela.
- Não nego.
- Como assim? Como podes?
- Mas ela decerto não lhe contou toda a história?
- Disse que você estava com ciúmes dela.
- Decerto, não era para estar? Sua filha é linda, e eu confesso que ainda a amo.
- Mas isto não é motivo para bater nela.
- Pois então, com o perdão da palavra, permito-me contar-lhe o que aconteceu:
  “Já fazia algum tempo, que andava desconfiado, e muito na cidade me alertaram, que minha esposa, mulher que tanto amei, me traia, eu não acreditava, achava que era invenção dos que não queria minha felicidade. Lúcia mesmo, minha irmã, chegou a me alertar do que era o nome de Dalila, na boca dos outros, chegou a falar com a própria Dalila, inocente, tentando ajuda-la a se livrar dos comentários. Arrumei muita briga minha senhora, por conta disto, tentava deixar para lá, esquecer, mas eram frequentes a denúncias. Fazia questão de acreditar em minha mulher. Para mim ela não mentira nunca, triste ilusão. Um dia, Lúcia discutiu com ela, pois sabia de algo, que eu me recusava a aceitar. Peguei minha irmã, e fui para casa de mamãe, para entrega-la para que parassem as brigas, Dalila não quis vir com a gente, ficou em casa sozinha, pelo menos é o que eu pensava. Durante a estadia na casa de mamãe, pelo clima chato que ficara, adiantei minha volta, e ao chegar, triste decepção, encontrei minha Dalila aos beijos com um homem daqui da cidade. Não consegui me conter, parti pra cima dos dois, o homem, fugiu pela janela, e Dalila ficou ali, olhando para mim, que depois de lhe dar uma bofetada, chorava, me senti o pior dos homens.” - Confesso Dona Margarida, não só levantei a mão para sua filha, como lhe dei uma bofetada.
  Ao terminar o caso, Dona Margarida, não sabia mais onde enfiar a cara, sentia vergonha da filha, sabia que ela não era fácil, mas não podia imaginar que ela era tão sem escrúpulos, trair aquele homem, daquele jeito, e ainda lançar boatos, colocando-o como culpado? Não era triste, era vergonhoso. Não conseguia sequer olhar nos olhos de Johan, que agora chorava discretamente. Ele ainda levantou-se e deu um abraço em Margarida, os dois choraram juntos.
  Enquanto isto no sítio, não era de se estranhar que Dalila e Hanz tivessem aproveitado a saída de Margarida e Jorge. Aquela mulher, agora provocava mais do que desejo em Hanz, ele agora sentia que a amava, e não era fácil, se apegou tão rápido a ela, que não entendia, talvez por que quase nunca tinha a atenção de alguém. E saber que logo, logo teria que ir embora dali, e deixar para trás este amor, isso se não fosse antes deixado por ela.

CAPITULO XX

CAPITULO XX
  Naquele dia Diana, que ainda não havia falado muito sobre Iracema para Julio, resolveu mostra-la a ele, Dona Nanci não gostava muito que a filha recebesse visitas, mas para Julio abriu uma excessão.
 - Há muito tempo ela se encontra em sono profundo Julio, minha mãe ainda tem esperanças que ela acorde.
- Mas não dá sinais de uma possível volta?
- Há pouco tempo ela mexeu o dedo, e depois a mão, o médico que a visita disse que poderia sim ser um sinal de regresso.
- Será que eu posso vê-la?
- Claro, vamos até o quarto, minha mãe não gosta muito que ela receba visitas, mas no seu caso ela entenderá.
  Encaminharam-se rumo a última porta daquele imenso corredor, bateu na porta, e logo Dona Nanci veio a encontro deles.
- Com licença mamãe, Julio gostaria de conhecer nossa princesa.
- Oh sim, queira entrar, estava rezando um pouco. (Dona Nanci passava o dia rezando).
- Venha Julio pode entrar, disse Dona Nanci.
  Entrou ressabiado, mas entrou.
  Ao ver aquele rosto pálido sobre a cama, rosto desfalecido, sem cor, era quase inacreditável que se tratava de uma pessoa em coma, começara a imaginar como seria aquela mulher em sua vida normal. Mas Julio não pode conter-se e uma emoção exorbitaria tomou conta dele, algumas lágrimas caiu ao chão. Nanci e Diana ficaram sem entender, embora muitos que viam Iracema tinham esta mesma reação, D. Nanci mesmo, vez ou outra era pega chorando no quarto.
  Julio sentia um abafamento no peito, algo inexplicável, era como se conhecesse aquela mulher que ali estava, era como se tivesse estado com ela, mas não conseguia reconhecer aquele rosto pálido, se ao menos pudesse ver seu olhar, mas não os olhos, claro, fechados não deixavam que ninguém sentisse sua presença.
  - Faz muito tempo que ela se encontra neste estado?
- Uns sete anos talvez.
- Sete anos? Mas por que aconteceu com ela?
- Ninguém sabe ao certo. Ela andava meio doente, estava fraca, e quando foi um dia encontramos ao chão, caída, levamos ao hospital, foram meses de tratamento, mas todos os médicos diziam que ela estava em coma, e que não tinha o que fazer, que só com o tempo ela poderia se recuperar.
- A senhora precisou ser muito forte.
- Precisei? Se precisei, mas não fui, não me conformo.
- Deus queira que um dia ela se cure.
- Ele quer, eu tenho fé que um dia minha filha, minha tão querida filha estará entre nós.
- E o Sr. Marajó, ele o que pensa?
- Sobre?
- Sobre o caso, não poderia ter sido algum acidente?
- Meu marido fala que ela estava desmiolada, não falava coisa com coisa, ele que a encontrou caída ao chão.
- A polícia não foi acionada?
- Polícia? Chegou a vir aqui, mas não deu em nada, o próprio pai disse que se tratava de “desmiolamento” da filha, eles desconsideraram qualquer hipótese criminalista.
- Se o pai disse, ele deve saber o que estava fazendo.
- Claro. Marajó sempre foi muito rígido com os filhos, mas também muito preocupado, não demonstra mas sempre foi muito preocupado.
  Julio ficou muito intrigado com tudo aquilo, era um caso muito estranho. Logo mais, Diana acabou contando à ele, que na época, pouco antes do ocorrido, Iracema tinha realmente tido uns surtos, e que isso a desestruturava bastante, a irmã começava a dizer algumas coisas sem sentido, chorava muito, dizia sentir falta de alguém que ela nunca dizia quem era, no final isto causava muita dor a toda a família, o pai as vezes perdia a paciência, e saía de casa no meio da noite para se acalmar. Dona Nanci tentava acalmar a filha, mas não adiantava muito.

  Contou ainda que tudo que acontecera com Iracema só acontecera depois dela, Iracema,  voltar de uma viagem.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CAPITULO XIX

CAPITULO XIX
  Hanz não conseguira esquecer daquele beijo, também nem queria, mas se sentia mal por não ter feito nada, poderia ter não correspondido ao beijo, ou melhor, poderia ter aproveitado a situação e não ter deixado Dalila ir para o quarto, ou ainda poderia ter ido com ela, não, mas era melhor parar de ficar pensando em besteiras, aquilo era uma casa de respeito, Dona Margarida era uma mulher de respeito, Dalila era uma mulher de respeito (embora não demonstrasse isso com as vestimentas que usava) sempre tão provocante, com decotes tão acentuados em vestidos de cor tão viva, aguçara não mais, ou até mais que o desejo.
  Mas com os dias que passaram aquele sentimento de atração que se transformara em desejo fora ficando cada vez mais intenso, e era recíproco pelo menos pelo que parecia.
  Naquela manhã Dalila resolveu conversar com a mãe, que a esta altura do campeonato com certeza já desconfiara que Dalila não estivesse nada bem com o Johan, seu genro.
  Claro que Dona Margarida de início resistira firmemente a ideia, demonstrava um olhar não mais que de decepção, nunca desejara ver sua filha separada, tampouco seu genro, ela aprendera a gostar daquele homem como filho, ainda que como já mencionei, Johan nunca tivesse dado muito certo com o pai de sua esposa.
  Não fora um episódio nada emocionante, Dalila contou que estava sendo agredida, que o marido era muito ciumento, a mãe não discutiu, conhecia bem a filha que tinha, preferia nem discutir, saiu da cozinha, deixou a filha lá sozinha.
  Dalila sentira que tirara um fardo das costas, era uma sensação maravilhosa, antes se sentia como uma mentirosa, já fazia quase dois meses que estava na casa da mãe sem coragem para contar da separação, mas enfim, agora não precisava se sentir culpada. Embora ela não tivesse este hábito.
  Mas em seu canto Margarida refletia, era muito estranho, conhecendo Johan como conhecia acreditar que aquele homem loucamente apaixonado por Dalila, agredia uma mulher? Era no mínimo duvidoso. E ainda mais instigante, se ele era tão errado, não seria viável que ele fosse atrás de Dalila para pedir desculpas? Era muita coisa passando na cabeça de Dona Margarida, ela não conseguia compreender, teve medo de iniciar uma discussão com a filha, teve vontade de rever o genro, e decerto reveria assim que fosse possível.
  Hanz finalmente ouvira de Dalila que havia contado a mãe que estava separada, ele esperava ansioso por este dia, ele temia que a mãe dela descobrisse que eles estavam, tendo um enlace romântico antes de saber que a filha estava separada. Pobre Hanz, não sabia quem era Dalila.
   Mas aquele sorriso de Dalila o encantava como o encantava, um homem antes tão frio, tão distante, que vivia perambulando, homem que mata para não morrer, que vivia em confusão, via-se agora apaixonado, aquela mulher inescrupulosa tomara parte de seu coração, queira ele que não seja apenas mais um queira ele.

  Mas também não era perfeito, nunca fora, não poderia exigir a perfeição. Seria injusto. Acreditava veemente naquela mulher, suas palavras eram doces, e seu olhar provocante, quantos homens não caíram em tentação ao avistar aquele belo par de olhos? Aquele cabelo, negro ondulado longo chegando quase que a cintura, um corpo escultural, boca carnuda e olhos, voltam a falar deles, era de um negror sem igual, Dalila era tão linda quanto misteriosa para Hanz.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CAPITULO XVIII

CAPITULO XVIII
  Diana e Perola passaram juntas aquele dia praticamente inteiro, a pequena ainda apresentava certa resistência perante a namorada do pai, no fundo, lá no fundo a pequena Pérola acreditava que seu pai ainda poderia ter algo com sua mãe. 
  Estavam agora debaixo daquela árvore, árvore a qual Diana sempre gostava de ficar ali sossegada para meditar. Pérola brincava com umas pedrinhas, pedrinhas redondas que muitas haviam naquela região.
  Diana a observava, e sentia uma apatia pela aquela criança que era fora do normal, era algo que não era possível de explicar, era como se a conhecesse à muito tempo, aquele jeitinho meigo, ressabiado, um pouco fresquinha confesso, mas muito dócil. Tinha algo que sem dúvidas chamava a atenção, talvez lembrasse o pai, mas Pérola não era muito parecida com Julio, a não ser que Diana não tivesse ainda percebido onde estaria esta semelhança.
  - O que você gosta de fazer menina?
- Não gosto de fazer muita coisa, gosto de ficar quietinha, de ficar com a mamãe enquanto ela acaricia meus cabelos.
-Então você é bastante carinhosa. Sabe que eu sempre fui bem diferente de você?
- Diferente? Realmente, você é muito diferente de mim mesmo. Você fala, fala mais do que eu, eu gosto de ficar calada.
(Diana deu um sorriso breve) – Você gosta de ficar calada e eu aqui tentando fazer você falar.
- É, mais nõ tem problema, meu pai disse que eu devo conversar com você.
- Ah seu pai! Você não precisava conversar comigo se não quiser...
- Ah, então tá bom.
- Mas você quer conversar comigo?
- Quero a minha mãe, eu amo a minha mãe...
- Sim, você ama, e deve amar mesmo, ela deve ser muito boa.
- É ela é a melhor mãe do mundo.
- E ela é bonita?
- Ela é linda. Mas não está muito bem.
- Não? Por quê? O que está acontecendo com ela?
- Ela disse que eu não posso falar que o papai não precisa ficar sabendo disso.
- Disso o que?
- Que ela está doente...
- E o que ela tem?
- Não sei, eu não entendo destas coisas, é coisa de adulto. Eu não insisto, mas eu quero ficar pertinho da minha mãe. Eu tenho medo, medo dela morrer, tenho medo de ficar sem minha mamãe.
- Não precisa ficar assim, ela vai ficar bem, e vocês ainda vão dar muita risada juntas.
- Vamos sim, mas eu ainda tenho medo.
- Não vamos mais falar sobre isso, poderá te deixar deprimida. Vamos passear mais um pouco?
- Mas não é tarde?
- No lugar onde eu quero te levar é pertinho daqui.
  Assim as duas levantaram-se e foram em trote no cavalo de Diana, para uma casa que afeiçoava muito Diana, esta casa mesmo que poderá ter vindo a sua cabeça neste momento. A casa da mãe Joana.
  Desceram a beira do rio abaixo, e logo estavam na beira daquela simples casinha. Mãe Joana já a esperava na porta, como se já soubesse da visita de Diana, a velha estava com umas flores na mão, por falar nisso a casa de Joana era repleto de flores, te todos os tipos, mais as sua preferidas eram as rosas, como Joana amava aquelas rosas.
  - Minha filha você veio me visitar?
- Oh dona Joana, estava passando e resolvi dar um pulinho aqui...
- E trouxe sua sobrinha?
- Não, ela não é minha sobrinha, é minha enteada, sou noiva do pai dela.
- Pobre menina, sofre tanto...
- Como assim Dona Joana?
- Nada não, deixa pra lá, essa menina está com um olha sofrido.
- A senhora às vezes fala umas coisas que me assusta Dona Joana...
- Minha menina, não precisa de se assustar, qualquer um percebe no olhar de uma criança quando ela está triste, mas e você, como está?
- Estou muito bem Dona Joana, trabalhando, cuidando dos meus animais, e agora com esta companhia doce desta menina linda...
- Então ela já está morando com você?
- Não, não, ela não vira morar comigo, ela mora com a mãe...
- Mora com a mãe? Não entendo...
- O que não entende?
- Ela, morar com a mãe, ela visita a mãe, ela não mora com a mãe, a mãe dela está perto, mas está longe, está longe, muito longe...
- Como assim Dona Joana?
- Minha cabeça dói minha filha, dói muito, acho melhor fazer um chá.
- Eu devo ter algum comprimido aqui na minha bolsa...
- Não, não, deixa seus remédios, eu tenho os meus, as ervas que me curam, e eu cuido delas. Mas agora vou tomar meu chá.
- A gente também está de saída, passei só para que você conhecesse a menina.
- A sim, muito linda ela, ela deve ter saído à mãe.

  Diana ficara sem entender, mas deveria ser alguma coisa na cabeça de Dona Joana mesmo, ela estava confusa, parecia confusa segundo Diana. Era melhor deixa-la um pouco sozinha, saíram para voltar à fazenda.