CAPITULO
XX
Naquele dia Diana, que ainda não havia falado
muito sobre Iracema para Julio, resolveu mostra-la a ele, Dona Nanci não
gostava muito que a filha recebesse visitas, mas para Julio abriu uma excessão.
- Há muito tempo ela se encontra em sono
profundo Julio, minha mãe ainda tem esperanças que ela acorde.
-
Mas não dá sinais de uma possível volta?
-
Há pouco tempo ela mexeu o dedo, e depois a mão, o médico que a visita disse
que poderia sim ser um sinal de regresso.
-
Será que eu posso vê-la?
-
Claro, vamos até o quarto, minha mãe não gosta muito que ela receba visitas,
mas no seu caso ela entenderá.
Encaminharam-se rumo a última porta daquele
imenso corredor, bateu na porta, e logo Dona Nanci veio a encontro deles.
-
Com licença mamãe, Julio gostaria de conhecer nossa princesa.
-
Oh sim, queira entrar, estava rezando um pouco. (Dona Nanci passava o dia
rezando).
-
Venha Julio pode entrar, disse Dona Nanci.
Entrou ressabiado, mas entrou.
Ao ver aquele rosto pálido sobre a cama,
rosto desfalecido, sem cor, era quase inacreditável que se tratava de uma
pessoa em coma, começara a imaginar como seria aquela mulher em sua vida
normal. Mas Julio não pode conter-se e uma emoção exorbitaria tomou conta dele,
algumas lágrimas caiu ao chão. Nanci e Diana ficaram sem entender, embora
muitos que viam Iracema tinham esta mesma reação, D. Nanci mesmo, vez ou outra
era pega chorando no quarto.
Julio sentia um abafamento no peito, algo
inexplicável, era como se conhecesse aquela mulher que ali estava, era como se
tivesse estado com ela, mas não conseguia reconhecer aquele rosto pálido, se ao
menos pudesse ver seu olhar, mas não os olhos, claro, fechados não deixavam que
ninguém sentisse sua presença.
- Faz
muito tempo que ela se encontra neste estado?
-
Uns sete anos talvez.
-
Sete anos? Mas por que aconteceu com ela?
-
Ninguém sabe ao certo. Ela andava meio doente, estava fraca, e quando foi um
dia encontramos ao chão, caída, levamos ao hospital, foram meses de tratamento,
mas todos os médicos diziam que ela estava em coma, e que não tinha o que
fazer, que só com o tempo ela poderia se recuperar.
-
A senhora precisou ser muito forte.
-
Precisei? Se precisei, mas não fui, não me conformo.
-
Deus queira que um dia ela se cure.
-
Ele quer, eu tenho fé que um dia minha filha, minha tão querida filha estará
entre nós.
-
E o Sr. Marajó, ele o que pensa?
-
Sobre?
-
Sobre o caso, não poderia ter sido algum acidente?
-
Meu marido fala que ela estava desmiolada, não falava coisa com coisa, ele que
a encontrou caída ao chão.
-
A polícia não foi acionada?
-
Polícia? Chegou a vir aqui, mas não deu em nada, o próprio pai disse que se
tratava de “desmiolamento” da filha, eles desconsideraram qualquer hipótese
criminalista.
-
Se o pai disse, ele deve saber o que estava fazendo.
-
Claro. Marajó sempre foi muito rígido com os filhos, mas também muito
preocupado, não demonstra mas sempre foi muito preocupado.
Julio ficou muito intrigado com tudo aquilo,
era um caso muito estranho. Logo mais, Diana acabou contando à ele, que na
época, pouco antes do ocorrido, Iracema tinha realmente tido uns surtos, e que
isso a desestruturava bastante, a irmã começava a dizer algumas coisas sem
sentido, chorava muito, dizia sentir falta de alguém que ela nunca dizia quem
era, no final isto causava muita dor a toda a família, o pai as vezes perdia a
paciência, e saía de casa no meio da noite para se acalmar. Dona Nanci tentava
acalmar a filha, mas não adiantava muito.
Contou ainda que tudo que acontecera com
Iracema só acontecera depois dela, Iracema,
voltar de uma viagem.
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