CAPITULO
XIX
Hanz não conseguira esquecer daquele beijo,
também nem queria, mas se sentia mal por não ter feito nada, poderia ter não
correspondido ao beijo, ou melhor, poderia ter aproveitado a situação e não ter
deixado Dalila ir para o quarto, ou ainda poderia ter ido com ela, não, mas era
melhor parar de ficar pensando em besteiras, aquilo era uma casa de respeito,
Dona Margarida era uma mulher de respeito, Dalila era uma mulher de respeito
(embora não demonstrasse isso com as vestimentas que usava) sempre tão
provocante, com decotes tão acentuados em vestidos de cor tão viva, aguçara não
mais, ou até mais que o desejo.
Mas com os dias que passaram aquele
sentimento de atração que se transformara em desejo fora ficando cada vez mais
intenso, e era recíproco pelo menos pelo que parecia.
Naquela manhã Dalila resolveu conversar com a
mãe, que a esta altura do campeonato com certeza já desconfiara que Dalila não
estivesse nada bem com o Johan, seu genro.
Claro que Dona Margarida de início resistira
firmemente a ideia, demonstrava um olhar não mais que de decepção, nunca
desejara ver sua filha separada, tampouco seu genro, ela aprendera a gostar
daquele homem como filho, ainda que como já mencionei, Johan nunca tivesse dado
muito certo com o pai de sua esposa.
Não fora um episódio nada emocionante, Dalila
contou que estava sendo agredida, que o marido era muito ciumento, a mãe não
discutiu, conhecia bem a filha que tinha, preferia nem discutir, saiu da
cozinha, deixou a filha lá sozinha.
Dalila sentira que tirara um fardo das
costas, era uma sensação maravilhosa, antes se sentia como uma mentirosa, já
fazia quase dois meses que estava na casa da mãe sem coragem para contar da
separação, mas enfim, agora não precisava se sentir culpada. Embora ela não tivesse
este hábito.
Mas em seu canto Margarida refletia, era
muito estranho, conhecendo Johan como conhecia acreditar que aquele homem
loucamente apaixonado por Dalila, agredia uma mulher? Era no mínimo duvidoso. E
ainda mais instigante, se ele era tão errado, não seria viável que ele fosse
atrás de Dalila para pedir desculpas? Era muita coisa passando na cabeça de
Dona Margarida, ela não conseguia compreender, teve medo de iniciar uma
discussão com a filha, teve vontade de rever o genro, e decerto reveria assim
que fosse possível.
Hanz finalmente ouvira de Dalila que havia
contado a mãe que estava separada, ele esperava ansioso por este dia, ele temia
que a mãe dela descobrisse que eles estavam, tendo um enlace romântico antes de
saber que a filha estava separada. Pobre Hanz, não sabia quem era Dalila.
Mas aquele sorriso de Dalila o encantava
como o encantava, um homem antes tão frio, tão distante, que vivia
perambulando, homem que mata para não morrer, que vivia em confusão, via-se
agora apaixonado, aquela mulher inescrupulosa tomara parte de seu coração,
queira ele que não seja apenas mais um queira ele.
Mas também não era perfeito, nunca fora, não
poderia exigir a perfeição. Seria injusto. Acreditava veemente naquela mulher,
suas palavras eram doces, e seu olhar provocante, quantos homens não caíram em
tentação ao avistar aquele belo par de olhos? Aquele cabelo, negro ondulado
longo chegando quase que a cintura, um corpo escultural, boca carnuda e olhos,
voltam a falar deles, era de um negror sem igual, Dalila era tão linda quanto
misteriosa para Hanz.
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