CAPITULO
XIII
Hanz
entrou naquele pequeno recinto, sentou-se em uma cama à beira da janela,
pensativo como sempre. Não podia acreditar, que depois de tanto tempo
encontrara uma cidade onde ao invés de confusão encontrou amizade, acolhimento,
não estava acostumado com isso, tinha medo de colocar tudo a perder. Não sabia
se realmente havia chegado no lugar onde tanto procurava, não sabia se o que procurava era um lugar ou
um estado de espírito onde pudesse ter uma vida recomeçada. Talvez ali naquele
lugar pudesse ter a calma apaziguadora de tantos ares.
Poderia reconstruir ali, uma vida, ainda que
nunca encontre um sentido em sua vida. Tinha uma vaga lembrança do que era família
quando tinha uma remota lembrança de sua mãe, e muito antigamente de seu pai,
até que começaram a discutir muito, as brigas a tarde eram tão frequentes, que
ele e os irmãos não conseguiam sequer dormir quando caia a noite. Tentava lembrar-se
de algo que houvessem falado durante as brigas, mas não lembrava.
Era impossível, era só uma criança na época. Mas
ainda que gostasse muito do pai, e o idolatrasse, sua mãe para ele era uma
santa, alguém imensuravelmente pura, e ele detestava escutar o pai gritando com
ela, por isso a maioria das vezes até tapava os ouvidos na esperança de sofrer
menos com as brigas. Sua vida continuava conturbada, mas foi na infância que
teve provações de tolerância.
Estava tão pensativo que nem percebeu quando
Dona Margarida o chamou para o jantar, ela repetiu o chamado duas ou três
vezes, até que ouviu, disse que já ia.
Levantou-se deixando um casaco sobre a cama,
ali, jogado. Chegou na cozinha, seu prato já estava ali sobre a mesa, pronto,
como se sempre tivessem o costume de tira-lo, como se Hanz já fosse parte da
família.
Jorge e Margarida já estavam ali, sentados à
mesa, e alem dos dois Dalila, filha de Margarida, uma linda mulher, calada,
muito calada. Jorge foi logo tratando de apresentar a irmã que passava uns dias
na casa da mãe.
Hanz cumprimentou ainda meio sem graça, e ela
respondeu ao cumprimento. Jorge explicou a Dalila que Hanz era um velho amigo,
(lembrando que eles nunca tinham se visto), ela não quis saber muito. Nem podia
saber, com o marido ciumento que tinha, qualquer palavra atravessada seria para
ela um tormento.
Terminaram o jantar, e enquanto Dalila e D.
Margarida foram para a cozinha lavar a louça, Jorge e Hanz foram para a varanda
conversar um pouco.
Para a sorte de Hanz, Jorge não era um homem
que gostasse de muitas perguntas, satisfazia-se com apenas o que Hanz contava
de espontânea vontade. Depois de uma meia hora de conversa jogada fora, foram
se recolher, naquela casa todos dormiam cedo, e acordavam mais cedo ainda.
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