sábado, 7 de dezembro de 2013

CAPITULO XIII
Hanz entrou naquele pequeno recinto, sentou-se em uma cama à beira da janela, pensativo como sempre. Não podia acreditar, que depois de tanto tempo encontrara uma cidade onde ao invés de confusão encontrou amizade, acolhimento, não estava acostumado com isso, tinha medo de colocar tudo a perder. Não sabia se realmente havia chegado no lugar onde tanto procurava,  não sabia se o que procurava era um lugar ou um estado de espírito onde pudesse ter uma vida recomeçada. Talvez ali naquele lugar pudesse ter a calma apaziguadora de tantos ares.  
         
 Poderia reconstruir ali, uma vida, ainda que nunca encontre um sentido em sua vida. Tinha uma vaga lembrança do que era família quando tinha uma remota lembrança de sua mãe, e muito antigamente de seu pai, até que começaram a discutir muito, as brigas a tarde eram tão frequentes, que ele e os irmãos não conseguiam sequer dormir quando caia a noite. Tentava lembrar-se de algo que houvessem falado durante as brigas, mas não lembrava.

  Era impossível, era só uma criança na época. Mas ainda que gostasse muito do pai, e o idolatrasse, sua mãe para ele era uma santa, alguém imensuravelmente pura, e ele detestava escutar o pai gritando com ela, por isso a maioria das vezes até tapava os ouvidos na esperança de sofrer menos com as brigas. Sua vida continuava conturbada, mas foi na infância que teve provações de tolerância.

  Estava tão pensativo que nem percebeu quando Dona Margarida o chamou para o jantar, ela repetiu o chamado duas ou três vezes, até que ouviu, disse que já ia.

  Levantou-se deixando um casaco sobre a cama, ali, jogado. Chegou na cozinha, seu prato já estava ali sobre a mesa, pronto, como se sempre tivessem o costume de tira-lo, como se Hanz já fosse parte da família.
  Jorge e Margarida já estavam ali, sentados à mesa, e alem dos dois Dalila, filha de Margarida, uma linda mulher, calada, muito calada. Jorge foi logo tratando de apresentar a irmã que passava uns dias na casa da mãe.

  Hanz cumprimentou ainda meio sem graça, e ela respondeu ao cumprimento. Jorge explicou a Dalila que Hanz era um velho amigo, (lembrando que eles nunca tinham se visto), ela não quis saber muito. Nem podia saber, com o marido ciumento que tinha, qualquer palavra atravessada seria para ela um tormento.

  Terminaram o jantar, e enquanto Dalila e D. Margarida foram para a cozinha lavar a louça, Jorge e Hanz foram para a varanda conversar um pouco.


  Para a sorte de Hanz, Jorge não era um homem que gostasse de muitas perguntas, satisfazia-se com apenas o que Hanz contava de espontânea vontade. Depois de uma meia hora de conversa jogada fora, foram se recolher, naquela casa todos dormiam cedo, e acordavam mais cedo ainda.

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